• 31.05
  • 2012
  • 10:12
  • Guilherme Alpendre

Tim Lopes: Por que morrem os jornalistas no Brasil

Seminário O dia da morte de Tim Lopes é lembrado como o dia em que jornalistas perceberam que apenas o crachá não era suficiente para protegê-los. Seu homicídio foi o primeiro de um repórter de uma grande empresa de mídia motivado pelo seu trabalho bem feito. Dez anos depois, jornalistas do Ceará, Pará, Rio de Janeiro e Paraguai avaliam, no primeiro debate do seminário "Jornalismo de Risco no Brasil", por que profissionais ainda são mortos no Brasil.

Ruy Sposati, paulista radicado em Altamira, lembra que muitas vezes as ameaças ao repórter são institucionalizadas. As que ele sofreu vieram de quem deveria protegê-lo: a Polícia Militar do Pará. Sposati segue cobrindo a região, e diz evitar o embate com políticos locais. "O político não é só político, é coronel, madeireiro, grileiro".

Vera Araújo, repórter de O Globo, conhece essa mistura de poder e corrupção. Ela foi a primeira a usar o termo milícia para se referir a grupos organizados de policiais militares que, no Rio de Janeiro, expulsaram o narcotráfico de algumas favelas. Ficou afastada por nove meses do jornal e teve de mudar de endereço por causa do volume de ameaças que recebeu. Descobriu por conta própria quem a ameaçava por telefone, mas não conseguiu que a Polícia investigasse o caso.

A experiência ajudou Vera a definir seus limites e a avaliar melhor o risco, mas ainda hoje só abandona determinadas coberturas por ordem de sua editora no jornal, a diretora da Abraji Angelina Nunes, ou por sugestão de seu motorista."O mais importante é fazer o relato", diz Angelina.

Na fronteira do Paraguai com o Brasil, Candido Figueredo chefia o escritório do jornal paraguaio ABC Color na cidade de Pedro Juan Caballero. Não se cobre narcotráfico na região sem uma visita a sua casa. Quando está em seu país é acompanhado durante vinte e quatro horas por uma dupla de policiais. Nas vinte e quatro horas seguintes, a primeira dupla descansa enquanto outros dois agentes o protegem. Vem sendo assim há quase dezessete anos. É o preço que o jornalista (que já teve o carro e o escritório alvejados por disparos) paga por denunciar incansavelmente as investidas do narcotráfico brasileiro na região. Mas Candido garante que sua independência e objetividade ajudam a manter uma boa relação com suas fontes: foi a ele que Fernandinho Beira-Mar telefonou para dar uma entrevista de 45 minutos e confessar o homicídio dos irmãos Morel.

Em 2003, Nicanor Batista, radialista do interior do Ceará, foi assassinado em Limoeiro do Norte. O hoje diretor da emissora em que Nicanor trabalhava, Francisco Evanildo Queiroz, admite: sua cobertura difamatória contra personalidades da cidade, frequentemente sem amparo de documentos ou quaisquer outras provas, colocou o profissional em risco. A mistura de interesses particulares com o trabalho de repórter ou radialista é, tanto para o paraguaio Candido Figueredo quanto para o cearense Evanildo Queiroz é uma razão frequente para a morte de repórteres, especialmente longe dos grandes centros.

O seminário "Jornalismo de Risco no Brasil" é uma realização da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), com apoio da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-RJ). Tem o patrocínio da Fundação John S. & James L. Knight e faz parte do Projeto contra a Impunidade da SIP.

Amanhã, 1º de junho, o debate continua. Serão dicsutidas as medidas que jornalistas podem tomar para se proteger e os limites para a obtenção de boas imagens. Para encerrar o evento, será exibido um trecho do filme "Histórias de Arcanjo - um documentário sobre Tim Lopes", produzido por Bruno Quintella, filho do jornalista.

Programação completa

Assinatura Abraji