- 29.08
- 2018
- 13:42
- Rafael Oliveira
Projeto adota jornalismo colaborativo como modelo
Nascido em novembro de 2015, o Projeto #Colabora atua em um modelo baseado em redes de jornalistas e criação de conteúdo personalizado para sustentar a produção jornalística. Fundado por Agostinho Vieira, que construiu carreira no jornal O Globo, o #Colabora era inicialmente uma continuação do blog e coluna Economia Verde, conduzida pelo experiente jornalista no veículo.
“Faltando um mês para o lançamento do projeto, convidamos alguns amigos para escrever reportagens e fazer fotos para o lançamento. Vieram 30 pessoas. Hoje, temos mais de 250 colaboradores espalhados pelo país”, conta a jornalista Adriana Barsotti, editora e repórter da empreitada.
Os “colaboradores” — a maioria jornalistas, mas também especialistas em áreas como clima, população, mobilidade urbana — são remunerados por pauta, de acordo com a complexidade da apuração. “Na maioria das vezes, as pautas são sugeridas pelos autores e discutidas na nossa reunião semanal de pauta. Mas muitas nascem das nossas conversas e são feitas pela equipe fixa do projeto, que tem 6 pessoas”, explica Barsotti. Além dela e de Vieira, Aydano André Motta, Valquiria Daher, Fernanda Baldioti e Yuri Fernandes compõem a equipe fixa.
Doutora em jornalismo digital e professora da ESPM-Rio, Barsotti acumulou passagens por Estadão, Istoé e O Globo antes de embarcar no projeto idealizado por Vieira, com quem é casada. “O conceito de colaboração sempre foi muito forte para nós. Não só a colaboração no jornalismo, mas a colaboração como modelo de vida e de sociedade”, explica.
Com uma cobertura de sustentabilidade “mais ampla”, que “vai além da preocupação ecológica”, o #Colabora se distribui em 16 temas: água, cidadania, cidades, clima, consumo, cultura, educação, energia, gênero, inclusão social, meio ambiente, mobilidade, ONGs, saneamento, saúde e economia colaborativa.
Segundo Barsotti, porém, a divisão não é um limitante. “Gostamos mesmo de contar boas histórias que não estão nos grandes veículos, ou que tenham uma abordagem diferente”, diz.
O trabalho de destaque mais recente foi feito pela própria Barsotti. “Foram quatro meses de apuração e 26 horas de carro pelo interior do Maranhão e de Santa Catarina para retratar os extremos em renda e desigualdade a partir de dados do IBGE, Ipea e Pnud”, explica a jornalista, que visitou Marajá do Sena (MA) e Rio Fortuna (SC). Com vídeos e imagens de Yuri Fernandes e design de Raquel Cordeiro, a “Extremos do Brasil” (foto de destaque) repercutiu na TV fechada: “[A reportagem] mereceu dez minutos de debate no programa Estúdio i, da GloboNews, com nossa autorização”, diz.
O #Colabora também investe em outros formatos de jornalismo. Na série em vídeo Web Colaborativa, por exemplo, a jornalista Maria Clara Parente apresenta iniciativas de economia colaborativa. Disponibilizado no canal do YouTube do #Colabora, o trabalho foi premiado na edição 2016 do Rio WebFest e conquistou o terceiro lugar na categoria não ficcional do Melbourne WebFest, em 2017.
Para financiar o seu modelo de jornalismo, o #Colabora inspirou-se inicialmente no Texas Tribune, que tem patrocínios, eventos, crowdfunding e apoio de fundações como fontes de receitas. A inspiração, entretanto, não deu resultados na prática. “No nosso caso, isso nunca funcionou bem assim. Temos poucos recursos de crowdfunding e de eventos e nada de fundações”, explica Barsotti.
Hoje, a principal fonte de renda da iniciativa são os projetos de produção de conteúdo. Segundo as informações disponibilizadas no site do #Colabora, o branded content representou quase 85% das receitas do veículo entre jul.2017 e jun.2018.