• 03.04
  • 2012
  • 14:50
  • Karin Salomao

Polícia supõe que trabalho de jornalista motivou assassinato

As investigações do assassinato do jornalista Paulo Rocaro, ainda sem conclusão, caminham na linha de que o crime foi motivado por sua profissão. Morto em 12 de fevereiro, na cidade de Ponta Porã (MS), fronteira com o Paraguai, o jornalista denunciava o trabalho de pistoleiros, os bastidores do narcotráfico e era bastante envolvido com a política local.

O delegado Odorico Mendonça Mesquita, do 1° Departamento Policial de Ponta Porã, é o  responsável pela investigação do crime. Os relatos de testemunhas, incluindo amigos e colegas de profissão, garantem que Paulo Rocaro não possuía dívidas ou relações extraconjugais. São aguardados exames de imagens, perícia balística e dos computadores e redes sociais de Rocaro para chegar a uma conclusão sobre o motivo do crime

Ao analisar imagens feitas por uma câmera de segurança, o delegado Mesquita descartou a hipótese de assalto: “vê-se claramente que é uma execução. A moto parou ao lado e disparou”, disse ele à Abraji. “Ele exercia a profissão de forma muito combativa”. 

O pistoleiro paraguaio Jacinto Ramon Cristaldo, conhecido dos dois lados da fronteira, foi preso em uma investigação da polícia paraguaia, na cidade de Coronel Sapucaia, a 100 km da fronteira.  Por estar de posse de uma pistola de mesmo calibre que a usada no crime e com uma moto muito parecida com a que aparece no vídeo do assassinato, a Polícia Civil de Ponta Porã pediu alguns exames de perícia. O exame de microscopia balística na arma deve esclarecer se os tiros que mataram Rocaro saíram da pistola apreendida com Jacinto.

A investigação conta com o apoio da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios) de Campo Grande, cujo titular, delegado Edilson dos Santos Silva, passou um tempo na cidade de Ponta Porã. Segundo o delegado Odorico Mendonça, é um trabalho em conjunto entre as duas delegacias.

 

Envolvimento com política

O jornalista paraguaio Cândido Figueiredo, amigo do jornalista, disse à Abraji que Rocaro era um dos fundadores de PT no Estado. Era bastante crítico ao prefeito local e estava empenhado em apoiar a candidatura da oposição. “Além do seu trabalho de jornalista, ele estava sempre na área política. Nos últimos tempos, estava envolvido em apoiar o candidato do PT para a prefeitura de Wagner Piantoni”, disse Figueiredo. “Este crime, como todas as outras mortes por encomenda aqui na fronteira, está ficando sem esclarecimento, coisa que é normal por aqui”, completa.

Figueiredo trabalha no outro lado da fronteira, na cidade de Pedro Juan Caballero. Autoridades paraguaias interceptaram uma ligação telefônica entre criminosos brasileiros planejando sua morte. A Polícia Civil de Ponta Porã investiga a relação entre os casos dos dois jornalistas.

 

O crime

Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, mais conhecido por Paulo Rocaro, tinha 51 anos e era editor do jornal diário Jornal da Praça e o site de notícias Mercosul News http://www.mercosulnews.com/ , e correspondente para os jornais Correio do Estado e O Progresso de Dourados. Em 2002, o jornalista lançou o livro “A Tempestade”, em que denunciava a ação de crimes de pistoleiros e de grupo de extermínio na fronteira. 

Ele retornava para casa depois de ter participado de um jantar na residência do ex-prefeito Wagner Piantoni (PT), por volta das 11h30 da noite de 12 de fevereiro, quando dois homens em uma moto atiraram nele. Seu veículo foi atingido por 12 tiros; cinco acertaram o jornalista. Rocaro foi socorrido ainda com vida pelo Corpo de Bombeiros, mas morreu por volta das 4h30 no Hospital Regional.

Enquanto se dirigia ao hospital, o jornalista ainda telefonou para sua mulher, a quem disse não saber o porquê do crime, segundo revelou quebra de sigilo telefônico feita durante as investigações.

Para o presidente do Clube de Imprensa de Ponta Porã, o radialista Diovano Cézar, “ Vivemos numa sociedade democrática e que possui os mecanismos que asseguram a liberdade de expressão. (...) Como a imprensa também age em defesa do cidadão e, devido à grande repercussão do caso, nós exigimos a elucidação deste caso”. 

 

 

Assinatura Abraji