• 25.05
  • 2012
  • 15:08
  • Karin Salomao

Lourival Sant´Anna fala sobre cobertura multiplataforma no 7° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

Desde 1990, o repórter Lourival Sant´Anna trabalha na cobertura internacional para o jornal O Estado de S.Paulo. Nesses mais de 20 anos, o que mudou “é que deixo de cobrir só para o jornal e faço vídeos e colunas no rádio”, diz ele. A cobertura multiplataforma da Primavera Árabe, no ano passado, é tema de sua palestra no 7° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.

Ele já fazia vídeos desde o surgimento da webtv, mas agora também edita as imagens com a ajuda da equipe da TV Estadão. Sant´Anna diz que aprende na tentativa e erro, mas com grande ajuda do jornal. “O pessoal da TV Estadão me dá dicas de som e imagem, mas o aprendizado continua”, diz. Sobre a qualidade dos vídeos, ele diz que “não adianta querer ter a qualidade da televisão, porque não dá”. Como o material que produz é para a internet e com imagens exclusivas, de lugares onde era o único jornalista presente, não há como comparar os dois meios e qualidades.

Para ele, a apuração é diferente dependendo da plataforma em que o conteúdo será exibido. Ao invés de usar apenas uma caneta e um bloquinho para lembrar das entrevistas e acontecimentos, ele grava as entrevistas e demais cenas necessárias para a matéria. Durante a cobertura em áreas de conflito armado, descobriu também que correr e gravar com uma câmera pequena é muito mais fácil do que tentar correr e escrever. Ao chegar ao hotel, assiste a todos os vídeos para só então escrever a reportagem. Ele diz que essa forma de apuração dá mais segurança que só a memória. Outra descoberta foi que a maior quantidade de mídias não atrapalha o jornal, muito pelo contrário, enriquece o conteúdo.

Além disso, a repercussão do seu trabalho também mudou. A cobertura pelo twitter e a divulgação dos vídeos no youtube e nas redes sociais alcançava uma audiência bem maior do que apenas o jornal impresso. Na Síria, Sant´Anna também traduziu as entrevistas para o inglês, para que ainda mais pessoas pudessem conhecer o drama contado pelos entrevistados, o que não é possível no jornal impresso.

A última cobertura que fez foi na Síria. Lá, entrou em uma região deserta: quase todos os habitantes haviam fugido; as poucas pessoas remanescentes estavam escondidas em casa. Quando ele entrou, junto com as forças da ONU, os moradores saíram às ruas para contar a ele suas histórias de opressão pelo regime. “As pessoas se arriscaram para falar comigo, um jornalista”, conta. Em contrapartida, ele fez o possível para proteger a identidade de suas fontes. 

“Mas, quando você está cobrindo países repressores, é preciso tomar novos cuidados”. É muito mais fácil proteger a identidade de alguém no jornal. Com os vídeos, ficou mais complicado. O jornalista colocou um capuz em alguns, colocou sua voz por cima da entrevista e alterou o som, tudo para não entregar as fontes ao governo.

Em especial, Lourival preocupou-se com dois homens que haviam acabado de sair da prisão e que lhe deram informações importantes sobre a repressão do regime. O repórter enviou os vídeos ao jornal, em São Paulo, e pediu que fossem guardados, mas que não fossem ao ar. Apagou os arquivos do seu computador e só publicou os vídeos na volta, quando já ninguém podia obrigá-lo a revelar a identidade das suas fontes.

Por causa da maior repercussão do seu trabalho, surgiu também um lado negativo. O trabalho dos censores, como o governo do Irã e da Síria, também ficou mais fácil. “Aumenta a facilidade de vigiar meu trabalho e controlar meus movimentos”, diz Lourival, que chegou a ser advertido pelas forças governamentais da Síria de que seu trabalho os incomodava.

Para não ser identificado como jornalista, Lourival também esconde os seus equipamentos de trabalho: a câmera, pequena, que usa desde 2008, e o bloco são escondidos em um compartimento na jaqueta.

 

7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

Quando: 12, 13 e 14 de julho de 2012

Onde: São Paulo - Universidade Anhembi Morumbi - campus Vila Olímpia - unidade 7 (Rua Casa do Ator, 275)

Inscrições: http://bit.ly/7Congresso

Assinatura Abraji